A VISÃO DE UM ÍCONE



No dia 24 de Setembro de 2010, a cidade de Betim foi agraciada com uma excelente opção de lazer para os apreciadores da boa música: a apresentação do cantor e compositor Kiko Zambianchi. A revista Betim cultural acompanhou o show do cantor no quintal da casa da cultura no projeto Sexta Show promovido pela Funarbe. 

Além disso, a equipe da RBC conversou com Kiko e diante de um dos maiores compositores de nosso país bateu um papo em torno da seguinte questão: “por que existe tanta gente sem talento fazendo sucesso?” A RBC quis saber qual é a opinião de Kiko a respeito desse tema, afinal, o cara não é um compositor de 2 ou 3 sucessos, ele é compositor de sucessos de grandes nomes da música brasileira. Muito se engana quem pensa que Kiko Zambianchi possui sua essência totalmente voltada para o Capital Inicial, o cara além de compor vários sucessos da banda, manteve parcerias ao lado de Lulu Santos, Marina Lima, Erasmo Carlos e outros grandes nomes.

Na estrada desde 1984, Kiko é cantor, compositor e guitarrista e fala com muita propriedade quando o assunto é música, e ninguém melhor que ele para discutir com a RBC sobre esse assunto.

RBC: Por que existe tanta gente sem talento fazendo sucesso?
Kiko: Olha, eu sou de uma época em que as pessoas estavam acostumadas a acompanhar excelentes festivais musicais e, nesses festivais serem descobertas como grandes artistas. Mas, até ter a oportunidade de se apresentar em um festival, a galera tinha que ralar muito, correr atrás mesmo, suar a camisa e, acima de tudo, ter talento para conseguir uma oportunidade. Hoje, você escreve aí qualquer coisa e põe uma mulher rebolando que domingo você já vai estar na televisão. Não existe mais a identificação do que é bom ou ruim, o que existe hoje é a chamada "onda", e o povo vai nela, o que tá fazendo barulho é que chama atenção, e na grande maioria das vezes esse barulho não passa nem perto de algo com talento artístico.

Quais os canais que levam essas ondas até as pessoas?
A mídia! A mídia põe no ar o que ela quer e hoje o que a mídia quer colocar no ar, é coisa ruim. Eles buscam audiência. A mídia não tem preocupação em oferecer as pessoas conteúdo de qualidade. Ela quer a audiência das pessoas sem se importar no conteúdo que oferece. Se é a baixaria que atrai o povo, se é a apelação que faz as pessoas ficarem coladas na frente da televisão, vamos coloca isso então.


E isso já vem de muito tempo, não é?
Isso teve início na década de 90 quando começaram mesmo a deixar de lado o que era rico em cultura para dar espaço a qualquer coisa que prendesse o telespectador na frente da TV, e aí, como consequência fazia sucesso no radio que começou a seguir a mesma linha de pensamento da TV. Nós passamos uma década (90) oferecendo todo tipo de “porcaria” aos nossos jovens e com o passar dos anos o nível foi caindo, caindo, e hoje estamos aí no último ano da última década desse novo milênio com tudo isso que a gente vê hoje.

E como a mídia acabou se transformando dessa maneira, deixando de priorizar a qualidade nos conteúdos oferecidos?
Particularmente, eu destaco a falta dos diretores artísticos atualmente. Com o passar dos anos foram retirando esses caras da mídia, que funcionavam como uma espécie de filtro, com a função de não deixar que qualquer um se apresentasse. Eles analisavam qual o nível de talento da pessoa que ia se apresentar e se não tivesse arte barravam mesmo, isso na TV ou no radio.

E por que hoje a internet também contribui muito para lançar novos nomes no cenário musical?
A internet ainda mais que a TV lança candidatos a artistas o tempo todo. Porque a TV tem a programação pré-estabelecida, já a internet é o dia inteiro, são 24 horas de entretenimento oferecido e a coisa é sem limite mesmo. Você faz o que quer, põe na rede e espera a resposta do público, público esse que na maioria das vezes acaba dando mais atenção pelo bizzaro que por muita gente de talento que tenta usar a internet para se lançar e acaba ficando sem audiência, porque as pessoas estão ali ä procura do que é grotesco, do que é bizarro e isso me espanta, eu acho um absurdo!

O que poderia ser uma solução para pelo menos diminuir essa onda de tanta coisa ruim lançada o tempo todo?
Eu acredito que um órgão para regulamentar e parar com tanta coisa ruim. Claro, um órgão para avaliar, não com o poder de liberar ou não o trabalho de um artista, porque esse filme o Brasil já viu antes e todos nós sabemos o quanto foi prejudicial. Mas eu defendo sim, um órgão para analisar esse tipo de coisa, afinal se a gente deixar a coisa rolando solta como tá, daqui a uns anos só vamos ter mulheres rebolando por um barulho qualquer e a juventude batendo palma, eu defendo um órgão que tenha interesse em defender a cultura.

Para finalizar, qual é a importância de apresentações como essa em Betim?
Relevante. É a segunda vez que venho a Betim e estou gostando muito, assim como a primeira vez que eu estive na cidade. Eu gosto de Minas Gerais, acho esse estado maravilhoso e as pessoas daqui também. É muito bom tocar próximo do público como aqui na Casa da Cultura e agora que estou apresentando com minha banda, esse tipo de apresentação é tudo que a gente quer.

Thiago Paiva, Kiko Zambianchi, Lucas Fernando Diniz e Tiago Henrique Rezende Fonseca

Esse foi o bate papo realizado entre Kiko Zambianchi e a equipe da RBC no quintal da Casa da Cultura no Sexta Show. Quem quiser conhecer mais sobre a biografia desse grande músico e seus projetos pode acessar: www.kikozambianchi.com.br